A tragédia de Malaquias
Estava sendo velado na Capela Mortuária do Boa Morte. Em volta de seu corpo sem vida, estavam seus amigos, irmãos, a mãe, alguns curiosos e sua ex-esposa, aquela que, talvez, fosse a razão de sua loucura.
Malaquias vivera um casamento feliz por dez anos, até ser trocado por um homem mais novo, ou como dizia ele, “um rapazote com mais disposição e de um índice de beleza abaixo do razoável”. Desde o dia em que Salete, saiu de casa, o pobre Malaquias vinha caindo na tristeza, comia mal, andava amarrotado, não sorria e chorava pelos cantos. Mas, por mais depressivo que ele estivesse, ninguém jamais imaginaria que o homem cometeria a loucura de se matar naquela gélida madrugada de terça-feira.
Enquanto o padre finalizava a Missa de Corpo Presente, um homem muito bem trajado chegava à Capela. Ninguém o conhecia, e ele nem mesmo se deu ao préstimo de olhar o corpo. Aguardou em pé, até o momento exato em que o religioso encerrou os seus trabalhos, e após uma forte limpada na garganta, pediu a palavra.
— Senhoras e senhores, sou o advogado do senhor Malaquias, e tenho em minhas mãos uma carta com suas últimas palavras. Ele mesmo, em outra oportunidade, havia me solicitado que no dia de seu enterro, revelasse suas palavras aos presentes. E aqui, tristemente, hoje o faço — o homem se pôs a ler o papel:
“Se estas palavras chegam aos seus ouvidos, quer dizer que meu corpo jaz em lousa fria. E se assim,
de fato o é, significa que não aguentei a distância que foi posta entre nós. Abandonar-te foi a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida, foi como arrancar de mim o coração. Não ver seus olhos pela manhã, não encarar seus sorrisos ao fim da tarde, não sentir o cheirinho do seu café.... Não tinha coragem de lavar minhas roupas, para que as mesmas não perdessem a lembrança de seu toque, como também não tive coragem de tirar cada coisinha que você havia colocado no lugar. Não tinha mais quem cuidasse de mim, quem me desse o carinho que eu necessitava, quem escutasse meus lamentos e minhas piadas sem graça. Por fim, saber que você me havia me trocado por outro, fez de mim um homem sem razão de existência. Saber que outro teria tudo aquilo que outrora foi meu, todas as regalias, atenções, sabores... Já não havia mais razão para viver, sendo assim, findei meu dias nessa terra. Mas saiba, que nunca houve sogra como você, Dona Juvelina!”

Comentários
Postar um comentário