O adeus de Madalena
Aconteceu no bairro Santa Tereza, na mesa da sala o patrão, o senhor Abelardo, encontrou a carta de Madalena, sua antiga empregada. Naquele pedaço de papel, em letras rabiscadas com uma caneta esferográfica azul, e até alguns respingos de água, que pareciam ser lágrimas secas, a mulher se despedia.
Relembrava a infância difícil com seus cinco irmãos, a morte do pai e o azar em não encontrar um bom marido. Mas o que mais doía, era o fato de que pela primeira vez em 25 anos, ela não comprara o leite matinal para seu amado patrão. Aquela bebida láctea, tão importante para os ossos e funcionamento intestinal de Abelardo.
Dizendo-se sem coragem de se olhar no espelho, Madalena confessou que havia até mesmo cogitado se matar enfiando a cabeça no forno ou se jogando no canil da família, onde o velho yorkshire, que nunca gostara dela, a mordesse até o trágico final.
Contudo, percebeu que o seu castigo seria maior, se abandonasse a casa do homem que a ajudou tanto, permitindo-a passar noites em claro servindo convidados e que a incentivou, estimulando seu ofício em noites de natal, carnaval e feriados, ensinando o valor do trabalho.
Madalena então, saiu de casa levando apenas a roupa do corpo e o bilhete de loteria premiado, que ela comprara com o dinheiro do leite do patrão. E mesmo assim, em seu martírio de partida, jurou a Abelardo que, na manhã seguinte, uma vaca leiteira seria entregue na casa, para que nunca mais faltasse a preciosa bebida de seu patrão. E para que jamais toda a família a esquecesse, pediu para que a vaquinha fosse sempre chamada de Madalena, a Milionária.

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