O menino que sabia voar



Não precisava de asas, nem de foguetes ou jatos nas costas. Não, não precisava de nada disso. Tocava o azul do céu como quem acaricia um veludo, e colecionava estrelas, as mais brilhantes, guardadas em uma pequena caixinha de fósforos. Certas noites, soltava estas suas estrelas, que voavam como vagalumes, apenas para colecioná-las novamente.
Nuvens? Tinha uma sacola cheia! Gostava de nuvens, imaginava que eram algodão doce, embora não tivessem gosto de nada. Mas gostava mesmo das nuvens de chuva, guardava algumas em alguns vidros de maionese, admirando aquelas que piscavam com seus relâmpagos enfurecidos, e utilizando outras, menos “nervosas”, para aguar seus pés de manga, reduto de passarinhos amigos.
Jura por tudo que há de mais sagrado, que certa noite roubara um beijo da lua, mas um beijo simples, rápido, pueril, que deixara a lua nova apaixonada por dias e mais dias. Certa vez aliás, me contara, que em um de seus maravilhosos voos, encontrara um interruptor no céu com uma tomada que plugava no sol. Não era eletricista, mas disse que encontrara o mal contato, aquele que fazia com que o sol se apagasse nos finais das tardes.
Sabia um monte de coisas que eu jamais imaginara existirem e tinha amigos e histórias nos quatro cantos do mundo. Pássaros, astronautas, montanhas e até um certo disco voador.
Uma vez, curioso sobre o dom de meu amigo menino, perguntei:
— Onde aprendeste a voar?
E ele, com o sorriso mais largo do mundo, respondeu:
— Com as sutilezas da vida! — E sumiu, pegando carona num rabo de vento.

Comentários