Tele(A)MARketing: Linha da Juraci
Enquanto
isso, no setor de atendimento de telemarketing da Juraci: Chamada em espera,
Juraci atende:
— Juraci, boa tarde. Com quem eu
falo?
— Boa tarde Juraci, aqui quem fala é
Mário.
— Em que posso ajudar, senhor Mário?
— É que eu realizei a compra de um
plano há alguns dias, e gostaria de cancelar.
— Certo, o senhor teria o número do
protocolo?
— Infelizmente não.
—
Senhor Mário, poderia me informar seu nome todo?
— Mário Araújo dos Santos.
— Só um momento senhor, enquanto
verificamos os dados.
— O seu documento, por favor, senhor
Mário.
— 112.221.122-21
—
Só um momento senhor, enquanto verificamos os dados. Desculpe senhor Mário, mas
não é possível cancelar a compra de seu pacote telefônico.
— Ah! Por favor Juraci... Nossa, que
nome diferente. Um nome forte: Juraci. Aposto que deve ter algum significado
especial.
— Não, foi só uma homenagem para a
minha avó. — Suspirou a atendente.
— Senti um suspiro de saudade
Juraci, o que foi?
— Não foi nada senhor Mário. —
responde um tanto emocionada.
— Ora, o que é isso, você já sabe
meu nome todo, meu CPF. Já somos íntimos, pode me chamar de Mário.
— É que sinto falta da vó Juju...
Mário.
— Pela sua emoção ela deve ter sido
uma pessoa muito especial mesmo. Amável com os netos.
— É... muito. Atendia a todos os nossos
mimos... Ah! O doce de mamão que ela fazia!
— Hum.... Adoro doce de mamão!
— Eu também! O senhor tinha de ter
conhecido o doce de mamão que vó Juju fazia.
— Já falei para não me chamar de
senhor. Tenho ainda 29 anos.
— Nossa, só isso? Sua voz parece ser
a de um homem experiente.
— Quem me dera, ainda tenho muito o
que aprender. A sua voz é que é muito bonita, já pensou em trabalhar em rádio?
— Minha voz não é pra tanto!
— É sim! Acredite no que te digo,
trabalho em rádio e não é fácil achar uma garota de 23 anos...
— 27!
— Oh!... Não é fácil achar uma
garota de 27 anos com talento para a locução.
— Você trabalha com rádio?
— Sou diretor artístico.
— Nossa, aposto que deve receber
convites para várias festas.
— Algumas... Não há muitos eventos
aqui em Onofre
Valadares.
— Você é de Onofre Valadares? Meu
pai nasceu aí!
— Sério? Como seu pai chama?
— Adalberto Furtado Soares, mas as
pessoas o chamam de Betinho.
— Betinho... Betinho... Betinho da
Dona Candelária?
— Isso mesmo!
— Mas ele é meu padrinho de batismo!
— Jura? Que mundo pequeno esse.
— Pequeno mesmo! Faz tempo que eu
não vejo seu pai, como ele está?
— Muito bem, passou por alguns
problemas de saúde há pouco, mas graças a Deus, já está bem melhor.
— Que bom, mande meus comprimentos e
peça para ele vir visitar o afilhado.
— Pode deixar, aviso sim. Você
chegou a conhecer minha mãe também?
— Dona Doralinda? Só estivemos
juntos uma vez, aliás, posso ver de onde você herdou esse jeito tão carismático
de falar.
— Todo mundo fala isso! Dizem que me
pareço muito com a mamãe, ainda mais pelos olhos verdes?
— Não! Você tem aqueles olhos verdes
da sua mãe?
— Não só os olhos, como também a cor
e o gingado daquela baiana. Gosta de axé?
— Não muito...
— Samba?
— Alguns poucos... Gosto mais de um
“rockzinho”.
— Ah sim...
— É...
Um silêncio rasteiro se faz por
conta desse pequeno desencaixe dos dois, Mário sem jeito, e até mesmo para
quebrar o gelo, retorna ao assunto principal.
— E o meu plano?
— Ah! É mesmo. Por que você quer
cancelar mesmo?
— Acho que está fora do meu padrão
orçamentário.
— Mas são só setenta e cinco reais
mensais e você tem duzentos minutos grátis. Olha quanto tempo você tem pra
falar com a sua esposa.
— Não sou casado.
— A namorada então.
— Também não tenho namorada.
— Namorado?
Mário ri da pergunta de Juraci e
continua.
— Também não tenho namorado, e
espero nunca ter também.
— Desculpe a pergunta, é que hoje em
dia...
— Eu sei como é. E você?
— Eu o que?
— Tem namorado?
— Tenho... Quer dizer, tinha.
Terminamos faz pouco tempo.
— Sério? Que triste.
— Você acha triste?
— Bem... Acho, não é? É tão difícil
achar alguém que goste de doce de mamão.
— E de axé.
— É. — Sorri Mário — Mas difícil
mesmo é achar alguém que goste de literatura.
— Eu amo!
— Jura? Que milagre! Eu gosto muito
de ler, principalmente se for algum livro de suspense.
— Adoro livros de suspense. Melhor
que os livros, só os filmes.
— Gosta de filmes?
— Muito, e você?
— Depende da companhia, e se ela
gosta de pipoca.
— Adoro!
— O que?
— Pipoca.
— Será que você poderia me passar
seu número de telefone?
— Por que?
— Ah! Sabe como é, essas linhas de
atendimento ao consumidor estão sempre congestionadas, vai que eu precise de um
atendimento urgente.
— OK, anote aí: 5521-1221.
— Está anotado.
— Ah! Alterei o seu plano.
— Sério? Obrigado.
— Agora você tem trezentos minutos
grátis para poder falar comigo sempre que quiser, isso tudo por uma taxa de
cento e cinco reais mensais.
— Mas não era isso o que eu queria...
— Mas você pediu meu número. Vocês
homens são todos iguais.
— Não... Não é bem assim... Quer
dizer...
— Você não vai me ligar, não é isso?
— Vou, mas...
— Mas o que Mário, me diz.
— Nada, o pacote está bom pra mim.
— Bem, o número do protocolo é
1225212521PG. Obrigada pela sua ligação. Tenha uma ótima tarde e aguardo
retorno benzinho. Beijos.
Encerrada a ligação Juraci vira-se
para o seu gerente:
— Mais um pacote Gold senhor
Pacheco.
— Ótimo trabalho, continue assim Amanda.
— Pode deixar senhor Pacheco.
Chamada em espera, a até então Juraci
(agora Amanda) atende:
— Ana Paula, boa tarde, com quem eu
falo?
— Boa tarde Ana Paula, aqui quem
fala é o Jorge...

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