O Mistério do Serpente Negra - Ato II
Durante o trajeto da sede do Tribuna
Democrata até a casa de Pierre Luís, Vlad recebeu uma mensagem de seu contato
no IML, dando as informações sobre a identidade da moça, e confirmando que,
assim como as demais, ela também morrera com o coração arrancado enquanto ainda
estava viva. Tratava-se de Dalila Aguiar, 25 anos, solteira e que trabalhava em
uma pequena lanchonete no Centro da cidade chamada de Sabor de Sonho. A polícia
estaria interrogando a mãe da moça naquele momento.
— Parece que já sabemos quem é a
moça. — O repórter falou para si mesmo, dentro do carro de Luís.
— Como? — O jovem o questionou,
achando que Vlad falava com ele.
— A nova vítima do Serpente Negra,
foi encontrada hoje pela manhã no Monumento aos Pensadores, já descobriram a
identidade dela.
— Como? Mais uma vítima? Pelos céus,
ninguém vai impedir esse monstro? — Luís não se conteve em sua revolta.
— Calma rapaz, foco na rua. — Vlad
lhe falou — Se você estiver certo sobre a morte do seu pai, talvez isso possa
ajudar a desvendar o mistério da identidade desse cara.
— Eu estou, eu sei que eu estou! —
Luís se conteve em dizer apenas isso.
Não tardou e rapidamente o repórter
e o filho do escritor chegavam à imensa mansão de Pierre Luís, ele havia sido
um autor de sucesso, com best-sellers publicados, além de obras e mais obras
adaptadas para cinema e televisão, na verdade, talvez ele tenha sido o mais bem
sucedido autor de toda São Ângelo. Vlad admirou as grandes salas e biblioteca
repletas com centenas de obras, nem mesmo o pai de Helena, sua namorada, um
homem de muitas posses, possuía uma coleção similar. Seguindo para o escritório
do pai, acompanhado pelo repórter do Tribuna Democrata, Luís apontou para a
mesa de trabalho do velho autor, onde, além de manuscritos de obras inacabadas,
também podia se encontrar cartas endereçadas a um certo Pedro Ruiz.
Trocas de confidências, desabafos,
narrações, crônicas e críticas, fotos antigas e apenas uma coisa que parecia
ter alguma relação com o caso do Serpente Negra, uma pequena citação em uma das
cartas, dizendo que um diálogo trocado com um amigo, pode ter desencadeado o
surgimento de um grande mal em São Ângelo.
— Quem é esse Pedro Ruiz? — O repórter
interrogou o jovem.
— Não sei, só sei que ele é cubano,
e meu pai o conheceu após uma viagem aos Estados Unidos no ano passado. Voltou
de lá entusiasmado com o novo amigo. Depois disso, recebíamos constantemente
cartas e mais cartas deste tal Pedro. — Respondeu.
— Eles nunca ouviram falar em e-mail
ou atitudes ecológicas? Olha essa quantidade de papel! — Dizia o repórter,
enquanto observava a bagunça sobre a mesa. — Mas até agora não entendo, por que
você acha que a morte do seu pai e o Serpente Negra possuem alguma relação? —
Vlad começa a achar que aquilo tudo não passava de perda de tempo.
— Aqui! — O jovem pegou um papel
sobre a mesa — Nestas folhas ele diz: "Descobri algo terrível, meu amigo,
temo por minha vida, ele pode vir atrás de mim a qualquer momento". — O
jovem repetiu as palavras que lia no papel.
Vlad apenas o observou incrédulo,
com um verruga de decepção na testa. Balançou a cabeça negativamente e esfregou
a mão no rosto, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
— Olha, isso deve ser alguma obra
literária do seu pai... A polícia não achou nada, o legista não achou nada, eu
não achei nada, aliás, só você acha alguma coisa aqui: Acha que seu pai foi
morto, mas ele não foi. Sei que lidar com a perda é difícil, mas tem outros
profissionais mais gabaritados para te ajudar do que nós. Você pode encontrá-los
por aí, com um jaleco branco e escrito doutor na frente de seus nomes.
— Senhor Vlad, eu tenho certeza que
há alguma relação entre os crimes, atualmente meu pai andava estranho. Calado,
saindo cedo e chegando tarde em casa, recluso em seus pensamentos... A última
coisa que ele me disse foi para tomar cuidado.
— Os pais dizem isso, é coisa da
espécie, não se preocupe. — O repórter disse secamente, e caminhando até a
porta — Agora é melhor eu ir, tenho que descobrir mais coisas sobre a tal Dalila,
e não posso demorar, esse mundo de jornalista é o cão, as pessoas fazem
loucuras por um furo de reportagem.
— Eu tenho certeza que podemos
encontrar alguma coisa, qualquer coisa... Me ajude, por favor. — Dizia o rapaz,
tentando evitar com que o repórter fosse embora.
— Vou torcer pelo seu sucesso. —
Vlad respondeu simplesmente, enquanto saía do escritório para o grande salão da
casa.
— Por favor senhor Vlad! — Luís
caminhava, seguindo seu visitante.
— Não. — O repórter acelerava o
passo.
— Eu te pago quinhentos reais! Não,
dois mil! Dois mil reais, apenas para que você confira os papéis de meu pai
atrás de algum indício. — Vlad parou ao escutar a proposta do rapaz — E eu
juro, que se não encontrarmos nada, eu sigo o seu conselho e procuro um
psiquiatra.
O repórter virou-se para Luís, e fez
uma pequena careta, desviou o olhar e logo em seguida se aproximou do rapaz.
— Está certo! Mas não o faço pelo
dinheiro, ok? Mas só por que eu sei que só assim você vai procurar um
especialista para te ajudar. Agora vamos até aquela mesa e vamos procurar esses
seus gnomos...
Os dois passaram horas investigando
documentos e mais documentos, lendo cada carta, cada pedaço de papel solto
naquela mesa. Cartas de Pierre Luís, de Pedro Ruiz, escritos de um livro
inacabado, assinaturas de revistas, alguns recortes de notícias, papéis com rabiscos
questionando o que seria a onda vermelha, até que algo chamou a atenção do
funcionário de Rodolfo.
— "Meu caro Pedro, temo que
nosso amigo tenha enlouquecido e tomado atitudes inimagináveis pela fama."
— Vlad lia um em voz alta — "Se minhas suspeitas forem verdadeiras, temo
que uma jovem foi assassinada, a primeira de muitas, caso não detivermos M. A. E. agora". — O repórter parou de ler, e olhou para o
rapaz que o encarava — Por que a polícia não deu crédito a isso?
— Por que eles nem mesmo leram esses
papéis. — Luís respondeu.
— Está certo, e esse tal de M. A.
E.? Tem ideia de quem seja?
O rapaz demonstrou nitidamente ter
ficado desconfortável com aquela pergunta. Ficou em silêncio por alguns
instantes, enquanto era encarado pelo repórter.
— Se você sabe de algo, você precisa
me falar. — Vlad insistiu.
— Está bem! Eu conheço dois homens
com essas iniciais e que eram frequentes nos círculos de amizade de meu pai.
Mauro Adalberto Élido e Marcos Augusto Ernest, o primeiro é médio
cardiologista, o segundo é empresário de uma agência de modelos.
— E de quem eu deveria suspeitar
primeiro? — O repórter perguntou, fazendo com que o Luís pensasse um pouco,
antes de responder.
— Mauro, ele e meu pai eram amigos
mas tiveram uma rixa no passado, o médico foi apaixonado por minha mãe.
— Certo, agora pegue essa carta e a
leve à delegacia. Entregue-a em mãos ao delegado Faria e diga a ele que foi um
presente meu, ok? Estou com um desconforto no peito, acho que está na hora de
procurar um cardiologista.
O celular de Vlad tocou, era
Anderson Magno, seu contato na polícia, informando que a mãe de Dalila acabava
de sair da delegacia, e por algum motivo que repórter ainda desconhecia, o
delegado Faria e seus agentes seguiam para o mesmo endereço que ele, o
consultório do cardiologista Mauro Élido.
— Ora, ora... Atirei no gato e
acertei o coelho. — Falou para si mesmo, dentro de seu Opala 85, azul metálico
— É um bom dia para se jogar no bicho Vlad, se é! — E o veículo seguiu em
direção ao bairro das Mangueiras.

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