Cartas para Onilda - Boas Mudanças



Boa noite, Onilda. Tudo bem por aí? Por aqui os ventos de uma boa mudança chegaram trazendo consigo uma coruja meio míope e ressabiada com as coisas, sem saber se o endereço era o certo ou se era certo entregar as letras trazidas com ela ao remetente do envelope.
Com bom grado todas as palavras transcritas naquele pedaço retangular de papel enfeitaram meu velhos óculos por alguns minutos. Um pouco sem jeito e com pressa de responder todas as questões, mas como a autora mesmo disse, era o sem jeito de há muito não se entregar a uma folha em branco.
Agradei-me de cada palavra, de cada letra sútil e dos ventos da mudança que tais palavras contém. Lisonjeei-me em saber que letras de outrora pertenceram somente aos meus olhos, mas não achei justo com o mundo. Ora vejam só, privar o mundo de textos mágicos, tenha dó Onilda?!
Por fim, encantei-em em saber que o sistema dos correios a conseguiu encontrar e que cartas com questões urgentes, de pendências do passado foram prontamente respondidas e solucionadas em sua necessidade primária.
Dentro das voltas que o mundo dá, quis o destino que neste solstício um fenômeno ainda maior se fizesse, coisa improvável para muitos e até para nós mesmos, antes de fato acontecer. Reencontro de olhos com certas letras. Olhos que choraram, que se entristeceram certa vez, mas que não sucumbiram à petrificação do acaso, como é de regra do mundo, e aceitaram de bom grado o regresso de sujeitos e predicados.
Aliás,  li em suas letras sobre certa tendência a sucumbir sob a brutalidade do mundo, mas lhe digo que essa nossa esfera azul precisa da nossa resistência, necessita que provemos que não existem verdades absolutas. Pela regra do mundo não deveríamos nos falar, pela regra do tempo mágoa e orgulho te impedem de viver bons momentos. Então,  faça uma regra pessoal contra a brutalidade: não passarás!
Bem, eu nem mesmo tinha planos de escrever para ti este ano, mas a alegria foi tamanha em saber que te tirei da inércia, que minha máquina de escrever não se conteve em compor sua sinfonia de teclas batidas. Espero rever a coruja míope mais vezes e te contar coisas sobre Tia Inês, James e outras pequenas fofocas.
Tomo meu café hoje com a felicidade do reencontro e ávido por esperar o trem na plataforma e enviar-lhe novas cartas.
Um efusivo abraço.

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