Cartas para Onilda - Fora do meu tempo



Querida Onilda, espero que esteja bem. Aqui pelos cantos de minha casa e do meu coração, estou bem também, embora uma coisa venha a me encasquetar na cabeça, brotando por debaixo de meu velho chapéu. Não, não são piolhos, pelo menos não em meus cabelos, mas talvez bichinhos semelhantes em meus pensamentos, se é que existe piolho de pensamento.

Pois bem, venho eu cá olhando para relógios e calendários, tudo tão moderno, tão tecnológico, coisa de bits e bytes, micro segundos e micro momentos, e eu tão fora deste tempo. Não fora carnalmente, pois de maneira física estou inserido no mesmo período de tempo que você e tantos outros 7 bilhões de pessoas, mas de coração e espírito estou atrelado às coisas antigas.
Um café fresco coado na simplicidade de uma pequena casa de roça, filmes antigos da década de 40, 50 e 60, músicas de outrora variadas entre sambas antigos, boleros e tangos... Rimas do Cartola, de Noel e outros cantores e notas que o a memórias dos mais novos não conhecem e nem reconhecem.
Tenho uma alma romântica, pueril para este tempo onde o egoísmo impera... Tenho uma alma que acredita nas pessoas, que acredita no final feliz dos velhos filmes em preto e branco que assisto e insisto em rever.


Não me vejo nestes tempos de mitos. Me sinto uma ponta solta, um homem clássico, (se é que isso existe). Aprecio um obrigado, um por favor, aprecio cartas de amor e a nostalgia dos poetas, contemplo as estrelas quando há tempo e poucas luzes em meu quintal. Gosto de um gole de café, dois minutos de silêncio e uma tarde de prosa. Gosto de causos... Gosto de abraços, e me comove a alegria alheia. As pequenas felicidades dos micro momentos que as câmeras frias não registram, apenas os corações quentes.
Será isso depressão, minha amiga? Será loucura? Sentir saudade de coisas que eu não vivi, de casas que eu não entrei, de pessoas que eu não conheci, de sonhos que eu não sonhei...


Sigo na saudade destes velhos tempos, talvez utopicamente frustrado como aquele personagem principal do filme de Woody Allen, Meia-Noite em Paris, sonhando com algo que para mim é de um jeito, mas para quem viveu não o foi de tamanho encanto.
Bem, encerro minhas letras por hoje, vou lá, mergulhar-me em canções antigas, que me levem, ao menos nos pensamentos, nos tempos aos quais me sinto pertencer.
Até breve!

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